Foram 7 dias intensos e reveladores em Torres del Paine, localizado na Região de Magalhães ao sul da Patagônia chilena. É uma viagem que exige preparo físico visto a necessidade de passar dias caminhando e acampando para ter acessos as paisagens mais sublimes.
Fiz um pequeno relato dessa linda viagem que durou 7 dias e prova por que a Patagônia chilena tem que estar em seus planos de viagem!
O 1º dia em Paine Grande (Antigo Pehoe)
Cheguei por volta das 13h, peguei minha barraca, organizei tudo e saí para uma caminhada na região. Atrás do refúgio começa uma trilha bem tranquila que segue beirando o lago Pehoe, com um visual maravilhoso, com aquela coloração turquesa dos lagos de glaciar.
…2º dia em Paine Grande – Los Cuernos
Existem duas opções de acampamento: o acampamento Italianos, a aproximadamente 7,6 km, e o Britânico, que não possui uma infraestrutura. Se preferir ficar em refúgio, há opção também de ficar no Los Cuernos, a 12 km. Outra decisão importante a ser tomada é se você irá subir o Vale do Francês ou não.
Às 7h30 estava tomando o café no Refúgio Paine e me preparando para o dia de caminhada. A trilha atravessa uma vegetação que foi afetada pelo grande incêndio de 2012. Após contornar as margens do lago Skottsberg, você voltará a encontrar vegetação ainda existente no local.
A chegada ao acampamento Italianos é marcada por uma grande ponte de madeira.
Para iniciar a subida do Vale do Francês deixei a mochila próximo à casa dos guardas no acampamento e subi fazendo apenas um ataque, o que é importante por que esse será o caminho também de volta. Levei comigo alguns amendoins, água, anorak, minha câmera e iniciei a subida. Um pouco depois de começar a subida você irá ver o Glaciar del Francés. Com um dia lindo de céu limpo, fiquei deitada no primeiro mirante, admirando a imensidão da montanha à minha frente.
Ali frequentemente ocorrem “avalanches” e que faz um som como se fosse um grande trovão! Uma experiência interessante.
São diversos mirantes ao longo do caminho. Depois de aproximadamente 4,5 km você passará pelo Acampamento Britânico. Esse acampamento gratuito não possui infraestrutura.
Para subir tudo leva-se aproximadamente 2 horas. Ao descer peguei minha mochila e segui ao Los Cuernos.
Chegando no Camping Los Cuernos – Camping Chileno – 13km
Um pouco antes, havia uma praia cheia de pedras. Como estava cedo me sentei ali para relaxar um pouco e curtir o silêncio e a beleza do local. Aproveitei para mergulhar os pés na água extremamente gelada, e logo continuei o caminho pois uma garoa fina se iniciou.
Los Cuernos possui opção de refúgio e acampamento. Ele fica bem escondido no meio das árvores, de frente para uma montanha. Eu optei por fechar as refeições no parque, então peguei um bom vinho e saboreei o jantar. A entrada era uma sopa de legumes acompanhada de pão caseiro. Como prato principal, arroz temperado e peito de frango ao molho de champignons, fechando a refeição com uma torta de limão. Foi um jantar fabuloso.
Na Patagônia, nessa época do ano, demora muito para escurecer. Às 21h ainda estava claro, então peguei minhas coisas e me sentei em um rio atrás do refúgio. Fiquei ali relaxando e conversando com outras pessoas que estavam fazendo a trilha, alguns começavam naquele dia como eu, outros encerravam o percurso.
…o 3º dia em As Torres
Esse dia tem como as opções de destino o Refúgio Las Torres ou o Refúgio Chileno. A escolha deve ser baseada em sua condição física neste ponto do circuito. Optando por seguir para o Refúgio Las Torres, o caminho será mais leve. Porém, no dia seguinte, você terá uma subida mais longa pela frente. Caso você opte por seguir para o Refúgio Chileno será necessário encarar uma subida longa até o passo que dá acesso ao Vale Ascencio, onde estão as torres símbolo do parque.
Saindo do refúgio Los Cuernos são cerca de 6,5 km até a bifurcação para o refúgio Chileno. Durante esse trecho você terá que enfrentar uma subida inicial de aproximadamente 2,5 km, mas depois o terreno se torna mais plano e segue assim até perto da bifurcação para o refúgio Chileno.
Quando você chegar à placa que marca a bifurcação, a trilha passa a ganhar altitude em uma subida de aproximadamente 3,8 km, aonde você subirá quase 300 metros. O final dessa subida é o passo que dará acesso ao Vale do Ascencio e a vista nesse ponto recompensa o esforço. Em dias claros você poderá avistar toda a estepe que fica ao Sudeste do parque, o Lago Sarmiento, o rio Ascencio e a trilha que desce o vale em direção ao refúgio Chileno.
O refúgio Chileno conta com opção de camping e hotel. Também possui um restaurante, loja de suprimentos e uma área para cozinhar, caso precise.
Quando cheguei no acampamento fiquei surpresa com a estrutura que ele possui para barracas, pois como o chão ali é bem instável, o parque criou estruturas de madeira para as barracas da agência.
Iniciei a subida para ver as Torres. O tempo estava um pouco nublado e por todo o caminho se escuta o som do rio.
A última etapa da trilha exigia um pouco mais de esforço, em especial para quem já estava no fim de um dia de caminhada. Neste trecho começou a chover, e eu pensava: “Não é possível que eu subi até aqui para não ter visibilidade de nada…”.
No entanto, alguns minutos antes de chegar ao topo, o tempo abriu e todo cansaço foi recompensado pela visão das torres sendo adoradas pelo lago verde turquesa.
Depois de um tempo admirando toda essa beleza, desci até o refúgio me sentindo privilegiada e emocionada. E assim, finalizei o Circuito W e comecei a me preparar para iniciar o Circuito O.
… o 4º dia no Camping Chileno – Camping Seron
Existe somente essa opção de camping. Nesse trecho, recomendo levar um bom repelente para insetos.
Essa parte da trilha sai do Chileno, na frente de uma maravilhosa montanha, e segue por um trecho de subidas e descidas bem leves. Essa parte é cheia de pernilongos e tábanos, que parecem mutucas e são extremamente irritantes.
Após um tempo se entra em um grande vale, repleto de margaridas.
Chegando no camping tive um grande choque: o local era totalmente diferente dos outros, com muitos pernilongos. Por ser alérgica, cheguei, tomei meu banho e me isolei na barraca.
A refeição foi maravilhosa, uma das melhores que comi. Depois passei um tempo conversando com os responsáveis pelo camping e fui descansar.
…o 5º Dia no Camping Seron – Refúgio Dickson
Existe somente essa opção de camping. Esse trecho também recomendo levar um bom repelente para insetos.
Ainda em terreno privado, em um lindo campo com muitas margaridas, me deparei com vários cavalos atravessando à minha frente, uma cena realmente bonita.
No final deste trecho é possível avistar o Refúgio Dickson a menos de 700 metros de distância, logo após contornarmos uma grande baía no Rio Paine. Temos realmente uma vista muito bela deste vale, tendo ao fundo o Lago Dickson que também pode ser avistado de um mirante que fica atrás do acampamento. Ainda dá para observar duas geleiras que terminam no leito do rio. Avistamos também alguns picos nevados.
A noite no Dikson foi muito especial: noite de Ano Novo! O jantar teve cordeiro patagônico, sobremesa, vinho e um clima mágico. Após o jantar, às 19h ficamos conversando, bebendo e dançando. Os guarda-parques foram chegando, até que finalmente fizemos nossa contagem regressiva e comemoramos a chegada do ano.
Foi o primeiro dia que saí de noite e fiquei muito tempo admirando o céu. Parecia uma pintura de tão estrelado que estava. Fiquei ali, entre trilheiros, admirando o céu em silêncio. Uma oportunidade realmente única!
…o 6º dia no Refúgio Dikson – Camping Los Perros
Existe a opção de parar no camping Los Perros ou no acampamento Paso. A partir desse ponto não é mais necessário o uso de repelentes. A caminhada começa tranquila e é um trecho pequeno.
Já na parte alta, o cenário muda totalmente do que foi visto até ali. É um bosque muito grande e bonito, com grandes árvores que foram torcidas pelo vento e se inclinam para o chão. Também foi a região onde mais me deparei com animais! Vi carpinteros, os pica-paus de cabeça vermelha ou preta, e lebres.
Andando mais um pouco saí do bosque e me deparei com uma longa subida de pedras soltas. Você pensa: “Socorro!”, mas chegando ao topo dela se depara com uma maravilhosa geleira pequena e um lago. O interessante é que logo em seguida você já vê o acampamento…
Não tive uma boa impressão desse camping no início. Tinha muitas coisas amontoadas, desde carcaças de pequenos botes até latas podres e algum lixo, que deixavam o lugar com cara de abandonado. Chão de terra batida, com muitas raízes de árvores e pedras. Tem banheiro e ducha gelada. Dispõe de um galpão protegido pra cozinhar, que funciona também em como pequena mercearia. Esse camping não possui quase nenhuma estrutura e fica no meio do bosque.
Cheguei, fiz meu jantar e fiquei pensando que minha viagem estava acabando. Quem conhece a Patagônia sabe: não dá vontade de ir embora.
Chegando no Camping Los Perros – Refúgio Grey
O dia começou com uma subida longa e acentuada, com muita água correndo pelo caminho e pontos lamacentos, sempre dentro da floresta, em direção ao Paso Gardner. As árvores vão ficando para trás e logo alcançamos as rochas e avistamos alguns trechos com vegetação e outros tantos apenas com pedras.
Muito cuidado agora: é possível ver os galhos das árvores e grandes pedras por buracos na cobertura de gelo do chão, que já está derretendo. Ao pisar, senti ele se rachar todo…
Alguns trechos de escalaminhada com muito vento! Finalmente alcancei o trecho mais alto desse dia. Apesar do frio e do vento muito forte, tive um momento de contemplação e, é claro, fiz mais fotos. Quando você chega no topo da subida, que é cansativa, e vê o Glaciar Grey, com toda magnitude de sua extensão, é um momento único.
Não existem palavras para descrever a sensação de chegar ali, foi mais surpreendente que as próprias torres para mim!
Iniciei a descida, e os bastões ajudaram muito para me dar equilíbrio. Você passa por vários mirantes nessa descida, todos dignos de uma espiadinha e fotografias, fora os trechos de escadas e pontes.
Finalmente cheguei ao Grey. Jantei com um casal chileno, grego e brasileiros; uns começando o percurso, outros encerrando. O clima de comemoração, satisfação e alegria são intermináveis. Afinal, é um privilégio ter essa experiência…
…o 7º dia e último dia no Refúgio Grey – Paine Grande – Catamarã de volta
O trecho mais curto, com 2 horas de caminhada, é bem tranquilo. Tem um pouco de descida, um pouco de subida, e existe um mirante antes da curva que fazemos para o Paine Grande de onde é possível ver o Grey de frente e se despedir dele.
…e vejam as dicas
Ao chegar no Refúgio Grey eu não sabia da existência de outros passeios, então quem puder ficar um dia a mais lá, vale fazer um Ice Trekking e Cavalgadas.
Serviço
Torres del Paine
Nível: moderado
Duração: 3 dias de logística e 7 dias de circuito
Como chegar: Existem duas formas de ir para lá: uma pela Argentina, por El Calafate, e outra pelo Chile, por Punta Arenas. Como eu já tinha visitado El Calafate em 2012, resolvi ir pelo Chile para conhecer outras cidades.
O primeiro trecho é São Paulo x Santiago, com duração de 4 horas. Na sequência, pegamos um voo de mais 3h50 para Punta Arenas – aeroporto mais próximo de Puerto Natales.
O último trecho é um deslocamento terrestre de 3h de ônibus entre Punta Arenas e Puerto Natales, distantes cerca de 250km.
As empresas que operam a linha linha Punta Arenas – Puerto Natales:
Buses Pacheco: www.busespacheco.com
Buses Fernandez: www.busesfernandez.com
Bus Sur: www.bus-sur.cl
Os ônibus saem quase de hora em hora, começando às 8h até às 20h.
O deslocamento todo é longo e cansativo. Como meu voo chegou em Punta Arenas meia-noite, optei por dormir lá e realizar o trecho de ônibus no dia seguinte. Chegando a Puerto Natales passei o dia conhecendo a cidade e no dia seguinte fiz o último trecho terrestre, que é um ônibus que te deixa na entrada do parque.
Ali peguei o catamarã que nos deixa dentro do parque. Tem duas opções de catamarã: uma de 3 horas que vai pelo lago Grey, e uma de 30 minutos que vai pelo lago Pehoé. Optei pela segunda opção.
…e quais equipamentos levar?
- Isolante térmico
- Saco de dormir
- Roupas técnicas: segunda pele, fleece ou pluma leve e anorak, e camisetas e calça de trilha
- Fogareiros e panelas não estão listados por que optei por usar a estrutura das agências que oferecem serviços dentro do parque. É possível alugar barracas, reservas vagas no refúgio e contratar logística de transporte e alimentação completa.
Sobre a sinalização:
O parque é bem organizado e sinalizado e não dá medo de andar sozinha, ainda mais em temporada, quando você encontra gente o tempo todo. A trilha é marcada por postezinhos alaranjados, ou marcas laranjas nas árvores. Quando você ficar em dúvida, procure o próximo poste laranja (ou uma marca laranja) que não tem erro. No Vale do Francês eram fitinhas cor de rosa nas árvores.
Os guarda-parques também estão ali para nos ajudar em caso de dúvidas. No Circuito W vi poucos, mas no Circuito O eles estão sempre controlando se seu tempo está bom para chegar até o local.
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