Paixão pelos vinhos, degustação e memória olfativa

Eu não poderia deixar de iniciar esta coluna sem falar da paixão pelos vinhos. A ideia não é citar produtor ou um vinho específico, mas falar um pouco sobre o que o vinho representa tanto para quem produz, como para o consumidor que aprecia um bom momento vivido através da bebida.

Se pensarmos lá no início, desde o cultivo, com o cuidado na elaboração do blend* ou de um varietal* que conserve todas as suas características da uva, do solo, do terroir* veremos que em cada etapa, há o envolvimento do homem e uma visão de futuro.

A visão de futuro está em saber compreender o momento em que cada garrafa poderá ser aberta, liberando os aromas e sabores retidos e contidos pelo tempo, frutos deste processo de produção, da vagarosa concentração de açucares e do empenho em fazer sempre o melhor vinho.

Já falei várias vezes com produtores sobre a “alma” do vinho e também tendo conversado com vários, pude compreender que o vinho é uma marca! Uma digital de quem o elabora. O vinho é em sua maioria, um produto da elaboração familiar, das raízes, do tempo dispendido no parreiral e na sua condução, do envolvimento quase que diário observando o clima e as precipitações. Claro, cada país tem uma característica, uma uva mais adaptável ao solo e clima, bem como a própria cultura na elaboração. O importante é o produto final. Seja o vinho de guarda, seja ele jovem e vibrante, haverá sempre uma história por trás.

Em cada vinho é revelada uma personalidade própria, assim como cada ser humano é único e especial. A experiência de cada um nunca será igual a do outro, nem os sentimentos, nem a percepção sobre os vinhos. Experimentar ainda é a melhor forma de aprendizado na degustação.

Para quem pretende conhecer um pouco mais sobre como degustar vinhos, podemos dizer que não é tão complexo assim. Na verdade, trata-se de utilizar nossas memórias olfativas, no que se refere á parte sensorial da degustação, além é claro, de se estabelecer analogias com os diversos sabores que podemos experimentar ao longo da nossa vida.

Vamos começar com a cor do vinho e o que ela pode nos indicar quando paramos para observar mais atentamente toda a gama de cores. Primeiramente o ideal é uma luz difusa, porém em um ambiente claro. Vinhos tintos jovens têm uma tendência a ser mais da cor arroxeada, com toques sutis, até azulados. Existe também a observação da coloração na taça, quando viramos delicadamente apoiando sobre uma superfície branca. Podemos observar algo que chamamos de halo* de evolução, ou “unha”, que é quando o vinho figura na taça apoiada, uma forma côncava.

Este indicativo de halo de evolução mostra se o vinho é jovem. Se formar um degrade suave do final da superfície para dentro, ele pode ser um vinho com mais anos de garrafa ou de barrica. Nas cores a tendência é que à medida que o vinho tinto evolua, se mostra sempre “caminhando” para a cor mais alaranjada, quase tijolo, o que indica a idade mais “avançada” do vinho. Estes são indicativos bem básicos e iniciais das cores no vinho tinto.

Nos vinhos brancos se a cor for um amarelo-palha com tons esverdeados, revela ser possivelmente jovem. Á medida que caminha para os tons amarelo-ouro ou até alaranjado, revelam a idade mais avançada, e também podem ser um indicativo da potência e complexidade do vinho e até de sua procedência. Mas, nem tudo é regra e sim, em conjunto com a parte olfativa e a parte gustativa, complementam a análise mais apurada em uma degustação.

Na parte olfativa, talvez tenhamos o maior uso dos nossos sentidos e onde se faz o uso da memória de vida e dos aromas percebidos ao longo do tempo. Não há uma técnica, apenas devemos estar em um ambiente sem odores para que tudo o que for sentido pelo nariz, não sofra interferência de outros aromas do local onde se está.

Os aromas como dissemos, fazem parte da nossa história de vida. Desde o nascimento usamos nossos sentidos para identificar o bom cheiro, o produto que não está estragado. No vinho é a mesma coisa. Coisas sentidas e percebidas nos remetem á situações vividas no passado. Como o doce da vovó no fogão, o cheiro do mato queimado ou de uma bala de hortelã.

Não que existe tudo isto dentro do vinho, mas a complexidade aromática da fruta, dos processos de vinificação e também dos estágios em barrica, sempre dentro da proposta inicial do enólogo, nos remetem aromas percebíveis e identificáveis em similaridade e semelhança com o que conhecemos e nossas memórias de coisas que aprendemos a perceber.

Na parte gustativa é que confirmamos cada uma das etapas anteriores do processo de degustação de um vinho.
Nela confirmamos, por exemplo, a presença da fruta em toda a sua plenitude, bem como os aromas da madeira integrada ou não (baunilha, caramelo, chocolate, etc.), e o real sabor no palato*, como doçura, amargor, acidez, presença do álcool, e tantos outros gostos identificáveis que em associação com a memória, revelam a personalidade do vinho e seu caráter.

Observar o que sentimos quando degustamos é o segredo da degustação em associação com nosso passado. Saúde e até a próxima!

Almir dos Anjos é sommelière pós-graduado em marketing pela ESPM e especialista em e-commerce em vinhos. Possui cursos de vinhos na ABS-SP e SBAV-SP e é um dos intergrantes do Grupo do Selo 7 Sommeliers.
Pretende trazer para o Viagens e Rotas informações, novidades e curiosidades sobre o mundo dos vinhos. Para Almir, qualquer viagem só é completa quando há união entre vinhos e gastronomia que definem a marca de uma região ou cultura.

Contatos- dos.anjos@uol.com.br
Blog Vinho dos Anjos- www.vinhodosanjos.wordpress.com
Blog Selo 7 Sommeliers- selo7s.wordpress.com
Site Selo 7 Sommeliers- www.selo7s.com.br.

Legenda:
*Blend: Mistura de diferentes uvas no mesmo vinho.
*Varietal: Um único tipo de uva. Merlot, por exemplo.
*Terroir: Um conjunto de fatores como solo, clima, altitude e tudo o que poderia influenciar no resultado final da uva.
*Palato: a parte sensível da língua, o gosto.
*Halo de evolução ou unha: é a borda que se forma do líquido (vinho) com a taça quando inclinamos a mesma.

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