Apesar da popularização dos vinhos, muitas pessoas têm dúvidas sobre a maneira de servi-lo e que regras são importantes na degustação. Na opinião de Rodrigo Mainardi, diretor técnico da Mistral, há alguns itens no ritual de consumo do vinho que são importantes para apreciar a bebida.
Beber em boa taça
Aqui não se trata de estética, status ou frescura. Uma taça adequada irá ajudar a identificar e apreciar características da bebida. Alguns bares na Europa servem vinhos em copos de plástico ou então em taças de cantina, aquelas de vidro e mais grossas. Segundo a fabricante de taças Riedel, o formato influencia na percepção que se tem do vinho. “Um do tipo borgonha, por exemplo, bebida com bastante acidez, se consumido em copo com menos bojo parece mais ácido e desequilibrado, pois a bebida é jogada no meio da língua, cai para os lados, áreas onde se percebe os sabores ácidos”, explica Rodrigo. Longe de exigir que os bebedores conheçam a fundo questões técnicas de cada vinho, Rodrigo sugere consumir em taças transparentes e finas, com bojo parecido com as taças usadas em degustação, altas e com cerca de 260 ml. “Isso é mais do que requinte. Por isso muitos tomam e não acham graça”, reforça.
Temperatura
É comum a ideia de que vinho branco é consumido gelado e os tintos, à temperatura ambiente. As informações estão corretas, mas é comum observar erros. A garrafa de vinho branco, por exemplo, não deve ser colocada num balde com gelo, pois com o passar do tempo a bebida fica muito gelada, o que faz a sensação de acidez subir e as características sumirem, como o aromas de frutas que vêm dos gases da bebida. Além disso, bebidas geladas amortecem o paladar. “É preciso colocar e tirar do balde. Depois, quando começar a esquentar, colocar a garrafa de novo”, explica. Com o tinto, o problema é o contrário. Quando se fala que deve ser bebido em temperatura ambiente, consideram-se as temperaturas da Europa, entre 16 e 18 graus. Já no Brasil, onde os termômetros passam muito dos 20 graus, o álcool do vinho fica mais volátil e aparece mais na bebida, sobrepondo-se a outros aromas, perdendo acidez e prejudicando a degustação.
Cheirar a rolha
É parte do ritual que é dispensável. Era parte do serviço do sommelier mostrar para o cliente para que ele observasse se havia algo de errado com o vinho. “É inócuo, pois pode ou não mostrar defeitos na bebida”, explica Rodrigo. Segundo o diretor técnico da Mistral, a única coisa que pode ser observada é se a bebida invadiu muito a rolha, o que pode indicar que entrou ar na garrafa, o que pode causar oxidação do vinho.
Servir vinhos caros
Não adianta negar, todos ficam de olho no preço das garrafas servidas em reuniões e jantares com amigos ou colegas. Quem nunca chegou em casa e foi pesquisar o preço do vinho na internet? Para Rodrigo, o preço não deve ser a única preocupação na hora de escolher o menu de bebidas. E isso vale para anfitriões e convidados. Se você sabe que os convidados têm adega e vinhos caríssimos, o pior caminho é tentar acompanhar os rótulos da pessoa. “Prefira vinhos de regiões inusitadas, diferentes do que as pessoas conhecem. Um apreciador tem curiosidade de conhecer coisas novas”, diz. Agora, se o público é eclético, não precisa gastar muito dinheiro. Muitos não vão aproveitar, melhor escolher um que possa agradar a todos. Pode servir um mais comercial e preço melhor que até quem gosta vai conseguir tomar. Em defesa dos vinhos de bom preço, Rodrigo explica que o custo de produção é similar entre os bons vinhos e que o que define o valor é a relação entre oferta e demanda.
Beber vinho como refrigerante
Não é adequado. O vinho deve ser apreciado e quem bebe precisa prestar atenção à sua presença na boca. Dar goles enormes não deixa que sabores e aromas sejam percebidos. “Vale o mesmo para a comida, não enfiamos tudo de uma vez na boca”, explica.
Perguntar se o vinho é doce ou seco
A pergunta pega mal. Isso porque não define características de bons vinhos e, sim, fazem referência aos de baixa qualidade, feitos com uvas para comer e não as mesmas usadas para o preparo dos vinhos. Muitos são os vendidos em garrafões ou chamados ‘da casa’ em restaurantes mais antigos. “No Brasil, é recente a cultura do vinho. Muitas pessoas estavam acostumadas a beber vinho de baixa qualidade”, explica.
Achar que vinhos doces ou brancos são de baixa qualidade
Segundo Rodrigo, isso é resquício de vinhos de baixa qualidade, muito doces, que ficaram muito populares como bebidas de festas, como casamentos. “As pessoas adoravam e depois passaram a identificar qualquer coisa branca ou açucarada com ele”, explica. Ele lembra que em algumas regiões, o vinho branco é servido depois dos tintos para reforçar sua superioridade.
Beber demais
Em jantares regados a vinhos, é fácil exagerar nas doses ideais para manter a linha. Principalmente em jantares harmonizados. A quantidade ideal varia de acordo com a pessoa e deve ser menor para mulheres ou mesmo para as que comem pouco. Para não dar vexame, Rodrigo explica que não é feio deixar vinho na taça. “Basta dar um gole, não é gafe”, diz. Isso pode ajudar a acompanhar jantares em que seis ou mais vinhos, por exemplo, podem ser servidos.
Não pedir dicas para o sommelier
Muitas pessoas não gostam de fazer perguntas ou pedir indicações ao sommelier para não parecer mal informado. Mas é justamente o contrário: trata-se de um profissional treinado para ajudar a escolher a melhor opção de acordo com o perfil das pessoas ou dos pratos escolhidos.
Deixar de beber porque não combina com a comida
Rodrigo diz que existem combinações que funcionam melhor e outras que não vão bem. Mas que não é preciso levar tudo à risca o tempo todo. Ele exemplifica que, num almoço com amigos, no qual a maioria vai comer peixe e apenas um vai pedir uma refeição com carne, o vinho para acompanhar será branco para agradar a maioria, mas pode ser consumido com o outro tipo de proteína. Não será a melhor combinação, mas vale a ocasião com os amigos.
* Texto do Portal Terra